A atual situação pandémica provocada pelo Covid19 tem evidenciado pelo mundo a importância de um serviço público de saúde forte e organizado que permita assegurar cuidados de saúde a todos os cidadãos quando necessitam. Apesar das fragilidades apresentadas ao longo dos últimos anos, a resposta que está a ser dada, em muito se deve ao profissionalismo e à resiliência dos profissionais que perante situações de risco e penosidade evitam e minimizam défices na prestação de cuidados que ponham em risco a saúde do doente e o bom desempenho dos serviços.

Louvados com grandiosidade no início do surto pandémico os profissionais de saúde, particularmente os enfermeiros que sustentam o normal funcionamento dos serviços de saúde aguardam ainda pela atribuição de um subsídio de risco assim como pela correção dos constrangimentos decorrentes do processo de descongelamento da carreira de enfermagem. Diariamente continuam a lutar contra a exaustão, a desmotivação, as falsas expetativas e a indiferença de alguns, suportando o aumento da carga horária semanal e muitas vezes as precárias condições de trabalho.

A necessidade de garantir a continuidade de cuidados obriga os enfermeiros a uma presença contínua junto dos doentes, enquadrados numa organização de jornadas diárias de trabalho por turnos, diferente do horário normal de funcionamento e atendimento contrário a atividade biológica humana e com consequências no ritmo circadiano.

Pela natureza do exercício profissional, tendo em consideração os meios utilizados, os fatores ambientais, a postura corporal, as cargas e o stress de lidar com a vida do outro no contacto com a dor e o sofrimento, têm um impacto ao longo do tempo incomensurável que contribui para classificar a profissão de enfermagem de risco e penosidade.

Fortalecer o serviço público de Saúde, passa por reconhecer e motivar os seus trabalhadores, oferecer condições de trabalho dignas, valorizar todos os profissionais reconhecendo o enorme esforço a que estão sujeitos para garantir a segurança e a qualidade dos cuidados de saúde.

A valorização dos profissionais de saúde deve fazer parte de uma estratégia que vise a melhoria continua dos serviços de saúde e não deve ficar prisioneira de alavancagens elitistas que concedem a uns poucos a oportunidade de se afirmarem em detrimento do grupo.

Todos os profissionais devem ter idênticas oportunidades de desenvolvimento profissional com valorização das suas competências através de uma carreira que diferencie pelo mérito e respeite os percursos profissionais, evite desigualdades de tratamento, injustiças relativas e inversões de posicionamento remuneratório absurdas, desmotivantes e inconsequentes.