Ajuda dos bancos centrais já vai nos 7,3 biliões
O diretor-adjunto do Fundo Monetário Internacional (FMI) disse ontem, num discurso sobre uma nova arquitetura mundial sobre a dívida pública, que as medidas de ajuda financeira dos bancos centrais já somam 7,3 biliões de dólares.
"Até agora, o mundo conseguiu evitar uma crise de dívida sistémica, principalmente por duas razões, sendo a primeira as taxas de juro muito baixas e o massivo apoio da política monetária", disse Geoffrey Okamoto, numa conferência no Instituto Peterson de Economia Internacional.
"Os bancos centrais em todo o mundo baixaram as taxas de juros e providenciaram liquidez, as linhas estabelecidas rapidamente ajudaram muitas economias emergentes a manterem o acesso ao mercado e a nossa mais recente estimativa é que estas medidas totalizam 7,3 biliões de dólares", mais de 6,2 biliões de euros.
No discurso em que apresentou várias ideias sobre como enquadrar o problema global de uma dívida pública crescente, o que é particularmente preocupante nos países que entraram na pandemia já altamente endividados, Geoffrey Okamoto salientou que a segunda razão que permitiu evitar uma crise sistémica de dívida foi o "extraordinário apoio financeiro direto", destacando a ajuda do FMI a 76 países e a Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) a 44 países.
A dívida, lembrou, "não é um problema novo", porque em 2015 já representava 152 biliões de dólares (quase 130 biliões de euros), o equivalente a 225% do PIB mundial, tendo subido 15 pontos percentuais de 2000 a 2015.
"Com a pandemia a varrer o mundo, a dívida acabou por ser uma doença prévia muito séria", disse o economista, acrescentando que "todos os países enfrentam a mesma combinação esmagadora de aumento da despesa para combater a doença e proteger a economia e, ao mesmo tempo, diminuição das receitas por causa da recessão desencadeada pelas necessárias medidas de confinamento".
Este ano, a dívida deverá subir uns 17% do PIB nas economias avançadas, 12% nas economias emergentes e 8% nos países de baixo rendimento; "é uma subida alarmante, porque com menos recursos e menos capacidade, os países mais pobres estão particularmente vulneráveis, e cerca de metade já tinham, ou estavam perto de ter, uma 'dívida problemática' [debt distress, no original em inglês] ainda antes da crise", disse Okamoto.
A arquitetura atual sobre a dívida e a sua regulamentação nos mercados internacionais e nas relações entre os Estados resultou bem nos últimos anos, mas não resolve o problema atual, em que os credores são mais diferenciados e nem todos os maiores detentores de créditos pertencem ao Clube de Paris, concluiu o responsável, numa referência implícita ao papel da China como grande credor mundial.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de um milhão de mortos e mais de 33,7 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.