Pedro Passos Coelho, voltarás…
Pedro Passos Coelho errou, como todos nós erramos. Mas acertou muito mais. Acertou ao ponto de nos tirar de um buraco para onde nos arrastámos
É natural que seja nas alturas difíceis, nos momentos de maior aperto, que nos lembremos dos que nos dão mais garantias para nos salvar. O que não deveria ser normal, nem recorrente, são as demonstrações de ingratidão, o sabor amargo da injustiça e o esquecimento a que votamos aqueles a quem mais devemos. Parece que temos uma certa atração pelo abismo, pelo risco e até mesmo pelo erro. Por vezes por inveja outras apenas e só por má índole ou ingenuidade. Sentimos isso em relação à familia a que muitas vezes recorremos só em casos de aflição, mas também a alguns amigos que só interessam para nos tirar do buraco, que de tanto estarem por lá, de nos acudirem nos maus momentos, e de se revelarem tão compreensíveis e altruístas, se tornam desinteressantes. Até chatos e enfadonhos por gostarem tanto de nós. Preferimos invariavelmente os que não nos ligam nenhuma, os que nos tentam ludibriar e enganar. Porque nós gostamos desse jogo, gostamos de ser enganados, do desprezo, e somos quadrados em muitas das matérias que regem a sociedade.
É isso que muitos sentem em relação a Pedro Passos Coelho. Como é de um espectro politico catalogado como centro direita e vivemos num País inclinado para a esquerda metade das virtudes desaparecem por si só. Mas para além disso disse verdades a mais. Foi sincero para além daquilo que muitos pretendem. Nunca se deu a grandes campanhas de marketing, nem a espetáculos de variedades vazios de conteúdo.Mas as pessoas gostam de um bom show-off. De beijinhos e abraços, de palmadinhas nas costas. Para além disso nunca foi muito bom a comunicar nem a esconder valores e intenções, a refugiar-se em cortinas de fumo ou cativações. E com tantos chico-espertos que para aí andam é mais difícil vencer sem um sorriso “Pepsodent” sem juras de amor de pernas cruzadas.
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Pedro Passos Coelho errou, como todos nós erramos. Mas acertou muito mais. Acertou ao ponto de nos tirar de um buraco para onde nos arrastámos e que só não pareceu mais fundo e perigoso porque ele se sacrificou. Recebeu um País de rastos, endividado e algemado a uma Troika pouco dada a ligeirezas. Isso não o impediu de ser, mesmo nesta situação, um dos políticos mais reformistas do pós 25 de Abril. Que não se preocupou apenas em gerir o dia a dia pantanoso do Estado sem ferir susceptibilidades do eleitorado, mas que bateu de frente com a previsível bancarrota ao mesmo tempo que reconstruía o tecido económico português. Que não teve receio de dizer “Não” a Ricardo Salgado e que deu ao País pela primeira vez verdadeiras armas contra a corrupção. A defesa de uma Justiça independente, que não se atemorizasse perante os poderosos e que tivesse a capacidade e a verdadeira liberdade de atuar sem olhar a nomes, cargos ou posições.
Mas ele é também uma das últimas reservas morais do País. Políticos como Cunhal, Soares, Cavaco, Sá Carneiro ou mesmo Freitas do Amaral. Uma pessoa integra, que abandona tudo para se dedicar a uma família assolada pela tragédia da doença da mulher. Que assumiu a tarefa de educar os filhos dele e os dela mesmo depois de partir. Que nunca se embeveceu com o poder e nunca se permitiu a sinais exteriores de riqueza. Honesto, correto e estadista. Que sempre colocou os interesses do País à frente dos dele. Quem é que no seu lugar aceitaria tomar as decisões difíceis sabendo que ia ficar com a fotografia estragada sem hesitar? Quem é que criou condições para que o País se regenerasse tão rápido abrindo portas para estes últimos anos de franco crescimento? Um dia seremos capazes de olhar para trás, de lhe agradecer e de o colocar no lugar que merece. Nesta altura de tanta incerteza, em que os próximos 50 anos dependerão ( e muito ) do que fizermos com a bazuca financeira da União Europeia, em que tanto precisávamos de uma oposição forte, de alguém que puxasse da ética e das boas práticas, de um líder integro. De um líder inteiro que nos guiasse através do exemplo, só me lembro do seu nome. Portugal, o País da saudade, terá oportunidade de as demonstrar. E tu, se não estiveres farto de ingratidão, cumprirás o teu desígnio. Voltarás…