“Peso da construção civil será muito maior, mas de bom isso não tem nada”
Reacção de Paulo Pereira, da Ordem dos Economistas, à manchete de hoje do DIÁRIO
“Obras públicas atenuam quebra da Economia”, é este o assunto que faz manchete na edição impressa do DIÁRIO, desta segunda-feira, 12 de Outubro.
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Fomos ouvir Paulo Pereira, representante da Ordem dos Economistas, sobre as repercussões que tal poderá ter no futuro do tecido económico regional. As perspectivas são particularmente más para o Turismo.
“Naturalmente que ao proibir (primeiro) e condicionar fortemente (actualmente) as outras actividades económicas, os governos em geral deixaram pouca ou nenhuma margem de manobra para sectores como o do Turismo poderem operar e assim gerarem a riqueza que normal e naturalmente gerariam. No segundo trimestre, por exemplo, a construção civil, e bem, não foi praticamente impedida de trabalhar, de executar o que já tinha contratado, quer para o Estado, quer para os privados” Se a isto somarmos as decisões de muitos privados em aproveitar a paragem para remodelar imoveis e a pressão do Estado em contratar mais rapidamente obra publica, é garantido que o peso do sector da Construção Civil no PIB este ano será muito maior que nos anos anteriores, pulverizando a importância do Turismo. Mas de bom isso não tem nada, pois não é um crescimento de importância natural, feito pelo mercado, mas sim por estrangulamento do sector do Turismo e de fortes e anormais incentivos à Construção Civil”.
Quanto à importância do sector da Construção Civil, Paulo Pereira reconhece os efeitos a “pelo menos no imediato/no curto prazo, que é o que os políticos sentem que têm de satisfazer – por exigência da sociedade”.
“Não temos uma economia diversificada para além dos sectores Turismo e de Construção Civil e dificilmente saímos deste paradigma no curto/médio prazo pois i) é o que sabemos fazer; (ii) temos problemas de escala, de ‘know how’ e de capital para sermos significativamente bem sucedidos noutras áreas; (iv) os incentivos da EU continuam a empurrar para esse caminho e (v) do seu comportamento dependem resultados e ciclos eleitorais, sempre curtos”.
Por outro lado, enumera os riscos da aposta nas obras públicas:
“O problema com as obras públicas são, entre outros: (i) o critério político e não de viabilidade económico-financeira e risco próprio do capital do decisor para a sua decisão, o que normalmente enviesa a razoabilidade das mesmas (na localização, dimensão; custo-qualidade; utilidade/produtividade, custos de manutenção, etc. – com alguma boa vontade há de se descobrir uma coleção de monos custosos feitos nos passados picos de “obras públicas”); (ii) a ideia de que como os fundos europeus contribuem significativamente no apoio às obras, praticamente qualquer seu uso é bom, esquecendo-se que deixam dívida para ser paga no futuro com mais impostos (não foi há assim tanto tempo que o IVA era 12% e agora é 22% - para ajudar a pagar a divida que no passado era justificada para a esperteza de aproveitar fundos europeus) e têm consequências negativas em terceiros (paisagens estragadas, negócios de outros atrapalhados, etc.) e (iii) criam, através de decisões políticas e não de mercado, sectores e empresas vencedoras e vencidas”.
Paulo Pereira considera ainda que, se os investimentos públicos na RAM tivessem sido tivessem sido na sua maioria produtivos, “o PIB teria crescido bem mais rápido que a dívida, sem ter de se recorrer a impostos adicionais”. Todavia, recorda, “não foi isso que se verificou mesmo na boa série dos últimos anos, (mesmo considerando os ligeiros cortes que foram sendo dados em alguns impostos)”.
“É um diagnóstico. Não uma crítica. Em Economia como em tudo na vida, não há soluções, há alternativas e do que se escolhe semear no imediato, é do que depende o que se vai colher no futuro”.