Madeira

Cosmos acusa AFAVIAS de utilizar jornal para “lançar falsidades” sobre polémica dos inertes

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Num comunicado dirigido, esta quinta-feira, dia 3 de Janeiro à imprensa, a Cosmos - Associação de Defesa do Ambiente e Qualidade de Vida, acusa Avelino Farinha, sócio maioritário da empresa AFAVIAS, de utilizar o JM – órgão de informação do qual é coproprietário – para “lançar falsidades” sobre a recente polémica da extracção de inertes nas linhas-de-água e orla costeira da Madeira.

A Cosmos afirma que “segundo este jornal, completamente instrumentalizado pelas directrizes do seu patrão construtor, o roubo de inertes das nossas linhas de água é legítimo já que alimenta inúmeras pequenas empresas de construção, que sem esses materiais disponíveis no mercado, não conseguem sobreviver”.

Por contrapartida, refere que “durante mais de 40 anos, e sobre o pretexto de garantir a segurança das populações e contanto com a cumplicidade de governantes completamente corruptos, rapinaram milhões de toneladas de inertes das nossas ribeiras”.

“Os tais ‘técnicos’ governamentais (muitos deles ligados a Ralis, chegando a correr com carros suportados e adquiridos pelas grandes construtoras, como a AFA, ou viajando em aviões executivos do mesmo grupo) chegaram ao desplante de informar a opinião pública, que a retirada desses inertes era fundamental para desimpedir os canais, e que as grandes construtoras até faziam um grande favor, em limpar essas linhas de água. Tudo artimanhas para encobrir um negócio milionário que envolvia, e envolve, milhões de euros”, sustenta a Associação, acrescentando que “quando não eram as ‘tais limpezas preventivas’, [estas empresas] aproveitavam-se das grandes obras, como a construção de açudes e canalização de ribeiras e outras obras hidráulicas para roubarem à descarada esses materiais”.

Como exemplos a Cosmos aponta as ribeiras da Ribeira Brava e Tabua, a Ribeira de São Vicente, a Ribeira dos Socorridos, no Funchal, a Ribeira da Madalena do Mar e ainda as ribeiras Seca e da Metade, no Faial, que “têm sofrido o descalçamento das suas cabeceiras, revolvidos os seus leitos, despidos os seus meandros naturais dos seus frondosos arvoredos, tudo para alimentar o lucro fácil dessas construtoras”.

Para os ambientalistas além do impacto na natureza, esta actividade é responsável pela falência de pequenas empresas que exploravam pedreiras, notando que “muitas delas foram obrigadas a encerrar portas e a mandar os seus trabalhadores para o desemprego. E as que restaram são obrigadas a meter ‘máquinas’ por perigosas ravinas, com custos de extracção altíssimos (no final de 2019, inclusivamente, um trabalhador/ manobrador morreu quando fazia um desses perigosos trabalhos em altura, na zona da Fundoa), enquanto as grandes construtoras simplesmente metem as suas máquinas limpinhas nos leitos e na orla costeira, e rapinam tudo o que encontram sem pagar um único tostão à Região”.

O caso mais paradigmático, dizem, “é o da Ribeira Brava, cujo leito foi completamente canalizado e ‘rapinado’ de inertes numa grande extensão”, e onde prevêem que “em caso de chuvas intensas, a velocidade do caudal torrencial será de tal ordem que, a jusante, irá por em perigo as populações e seus bens”.

A Cosmos insiste ainda que face â “recente ameaça dos poderes públicos intervirem neste ‘roubo’ descarado” as construtoras “vão para os jornais controlados por eles, ameaçarem e chantagearem governantes e ambientalistas, sob o pretexto que não têm inertes para fornecer às pequenas empresas de construção”.

Recorde-se que no passado mês de Dezembro, as diligências instrutórias requeridas pelo PS no âmbito da Comissão Eventual de Inquérito ‘à actuação do Governo Regional no que se relaciona com a extracção de inertes nas ribeiras e na orla costeira da Madeira’, foram aprovadas por unanimidade em reunião do grupo de trabalho.

Numa primeira fase, a comissão vai analisar “documentos relativos a diversas matérias, como acções de fiscalização feitas por diferentes entidades regionais, mas também pela GNR ou Polícia Marítima, documentos relacionados com a adjudicação de determinadas empreitadas. Foi também pedida informação interna e a diferentes secretarias relacionadas com limpezas de ribeiras ou eventuais extracções de inertes na orla costeira.

Na mesma nota a Associação Cosmos condenou ainda a recente suspensão do PDM, na Zona do Portinho, Caniço. Uma media que considera “altamente discriminatória”, uma vez que “os restantes munícipes desse concelho são obrigados a cumprir esse mesmo PDM”, e “uma mancha para os Juntos Pelo Povo, partido cujos líderes, há poucos anos, defendiam precisamente o contrário”.