Elisabete Matos é a nova directora artística do Teatro Nacional de São Carlos
A soprano portuguesa Elisabete Matos vai assumir a direção artística do Teatro Nacional de São Carlos (TNSC), em Lisboa, sucedendo a Patrick Dickie, anunciou o Ministério da Cultura.
Num comunicado, a tutela agradece a Patrick Dickie “o empenho e profissionalismo com que desempenhou as suas funções”, sobre as quais o responsável disse, em junho, não ter condições para continuar.
Com uma carreira internacional de mais de 25 anos, a soprano Elisabete Matos tem atuado em destacados palcos mundiais como a Metropolitan Opera House, de Nova Iorque, nos Estados Unidos, a Deutsche Oper de Berlim, na Alemanha, e o Teatro alla Scala, em Milão, Itália.
É professora-adjunta convidada na Escola Superior de Artes Aplicadas desde 2014 e, desde 2017, diretora artística do Festival Internacional de Música Religiosa de Guimarães.
Em junho, Patrick Dickie anunciou que não tinha condições para “equacionar a continuidade naquelas funções”, tendo, na altura, o teatro nacional - tutelado pelo Organismo de Produção Artística (Opart) - explicado que o responsável tinha informado a ministra da Cultura, Graça Fonseca, da sua decisão, tomada por “razões pessoais”.
O mandato do produtor criativo, encenador e dramaturgo Patrick Dickie terminou no sábado, 31 de agosto, dia em que efetivamente cessou funções como diretor artístico do São Carlos.
A saída de Patrick Dickie foi conhecida numa altura em que os trabalhadores do TNSC e da Companhia Nacional de Bailado estavam em greve, e quando o Ministério da Cultura anunciou que o conselho de administração do organismo que os tutela, liderado por Carlos Vargas, não seria reconduzido para um segundo mandato.
O ministério viria a anunciar André Moz Caldas, até então chefe de gabinete do ministro das Finanças Mário Centeno, para presidente do Opart, e como vogais foram nomeados a então diretora-adjunta do Conservatório Nacional Anne Victorino d’Almeida, e o então vogal da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos Alexandre Miguel Santos.
Patrick Dickie, que deixou delineada a temporada 2019/2020, era, em 2016, consultor artístico do TNSC quando foi nomeado diretor artístico do teatro lírico para um mandato de três anos, na sequência de um concurso internacional.
Em julho de 2016, dois meses antes de assumir oficialmente funções na direção artística, Patrick Dickie dizia em entrevista à agência Lusa que queria revitalizar o público do São Carlos.
Na altura, Patrick Dickie considerava que o TNSC tinha “um público tradicional, em alguns aspetos, que ama repertório operático italiano, mas que já apresentou no passado um repertório raro e menos usual, o que revela também uma audiência que tem curiosidade e uma mente aberta”.
A fantasia lírica “L’enfant et les sortilèges”, de Maurice Ravel, sob direção da maestrina Joana Carneiro e com encenação de James Bonas, a celebração dos 25 anos da Orquestra Sinfónica Portuguesa, a estreia de obras dos compositores Luís Tinoco e Ana Seara, a produção italiana da ópera “I Capuleti e i Montecchi”, de Vicenzo Bellini, e a ópera “Elektra”, de Richard Strauss, numa encenação de Nicola Raab, foram alguns dos momentos das temporadas do TNSC sob alçada de Patrick Dickie.
Antes de assumir funções em Lisboa, Patrick Dickie foi produtor da English National Opera, durante mais de 17 anos, assim como no Aldeburgh Music e no Almeida Theatre, em Londres, tendo programado compositores como Thomas Adès, Giorgio Battistelli, John Casken e Jonathan Dove, entre outros.
Estreou óperas de Daniel Kramer (”Punch and Judy”) e Fiona Shaw (”Riders of the Sea”, “Elegy for Young Lovers”) e “colaborou com entidades pioneiras no teatro imersivo”, como La Fura dels Baus (”Le Grand Macabre”, de Gyorgy Ligeti), destaca o ‘site’ do TNSC.
Patrick Dickie iniciou a carreira como diretor de recursos humanos na English National Opera, e encenou produções musicais em diferentes contextos, incluindo a estreia inglesa de Peter Eotvos “As I Crossed a Bridge of Dreams” (Almeida Opera, 2007).
Numa nota biográfica sobre Elisabete Matos hoje divulgada com o anúncio da escolha como nova diretora artística, o Ministério da Cultura recorda que a soprano foi dirigida por grandes maestros, entre os quais Lorin Maazel, James Conlon, Riccardo Muti, Zubin Metha, Valery Gergiev, Daniel Oren, Daniel Baremboin, Bruno Bartoletti e acompanhada por solistas como Plácido Domingo, José Carreras, Mariella Devia, Leo Nucci, Renato Bruson, Eva Marton, entre outros.
Elisabete Matos nasceu em Caldas das Taipas, Guimarães, e estudou canto e violino no Conservatório de Música de Braga, foi depois bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian, em Espanha, onde completou a sua formação.
Em 2000, foi galardoada com um Grammy pela gravação do papel titular de La Dolores, de Bretón, com Plácido Domingo, para a Decca.
Elisabete Matos recebeu as condecorações de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, e de Grã-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, concedidas pela Presidência da República, foi galardoada com a Medalha de Ouro de Mérito Artístico da Cidade de Guimarães pela Câmara Municipal de Guimarães, e distinguida com a Medalha de Mérito Cultural concedida pela Secretaria de Estado da Cultura, em 2015.
Venceu vários prémios em concursos nacionais e internacionais, como o Concurso de Canto Luísa Todi, em Setúbal, o Belvedere de Viena, na Áustria, e o prémio Femina 2012, entre outros.
Interpretou papéis wagnerianos como Isolda (em “Tristan und Isolde”), Elisabeth (”Tanhäuser”), Elsa e Ortrud (”Lohengrin”), Freia (”Das Rheingold”), entre outros, e de outros compositores, Katia Kabanova (de Janaácek), Condessa de Capriccio e Elektra (de Strauss), Santuzza de Cavalleria Rusticana (Mascagni), Norma (de Bellini), e Cassandre de Les Troyens (de Berlioz), entre outros.
Atuou ainda, entre outros palcos, na Wiener Staatsoper, em Viena, Áustria, na Washington Opera, nos Estados Unidos, no Teatro Real de Madrid, em Espanha, The Israeli Opera, em Israel, Teatro La Fenice, em Veneza, Itália, Festival da Madeira e Festival de Sintra.