Os que receiam
Ser do PPD na Madeira, não é bem uma opção política, é mais um “arranjo de vida”, inscrevem-se na “J”, participam nuns comícios e arruadas e depois de adquirirem algum tipo de notoriedade, passam a integrar a divisão “sénior”. Quando se é “bem-nascido”, com o sobrenome certo e a quantidade certa de sangue laranja a correr nas veias, ocupa-se diretamente um lugar na administração pública. Não necessitam sequer de se submeter a qualquer concurso. Quando pode dar muito nas vistas, publica-se o concurso, como manda a lei, mas não no DN-M ou no JM, como era suposto, mas publicam por exemplo, no Jornal do Fundão, não vá algum madeirense ver e opor-se. Se, mesmo assim, algum “fundanense” repara e se opõe ao concurso, o problema é resolvido com uma “entrevista” de forma a garantir que o resultado seja para quem estava destinado. Outra das formas utilizadas para colocar “os nossos”, é a do “regime de substituição”. Sem grandes exigências faz-se a nomeação. O nomeado fica no lugar algum tempo, depois abre-se o concurso para a vaga e pasme-se, a principal exigência é a de ter experiência na função, justamente a experiência que foi adquirida através da nomeação discricionária.
Nesta tribo, cada um tem o seu lugar, para uns, os da 1ª divisão, são a extração de inertes nas ribeiras, os portos, a escola hoteleira, o centro de inspeções, etc., etc. Para os da 2ª divisão, a Administração pública e as empresas públicas, para os demais, os de “má cabeça para a escola”, sobra sempre um lugarzinho de A.O. numa escola, uma bata azul, uma secretária com um telefone à porta duma repartição.
De vez em quando, de quatro em quatro anos, o vento agita a paz podre, há eleições e “ai Jesus”, se não formos nós, será o fim do mundo. Os que ainda não tiveram direito a nada, têm a sua vez, telha, cimento ou eletrodoméstico. Se plantou duas alfaces, ou fez uma bainha, terá um subsídio, se não fez, terá também. Haverá circo, inaugurações e subsídios para tudo e todos, para que não se esqueçam de nós (deles) na hora do voto. Se, até agora, três ou mais pescadores numa embarcação podiam pescar 25Kg de peixe não contando com o peso dos dois maiores exemplares, a partir do mês passado poderão pescar o mesmo peso, mas o número de exemplares de maior peso que não contam para os 25Kg, passou eleitoralmente de dois para QUINZE. É fartar vilanagem, escancarar as portas aos “piratas” do mar ou das ribeiras, porque se houver uma aluvião ou não houver peixe, isso será apenas depois das eleições.
Para se ser governante do PPD, diretor de serviço ou chefe de divisão não é necessária formação específica, experiência, curriculum ou sequer ter anteriormente gerido alguma coisa. Uma pergunta indiscreta: quem será o diretor do Atelier Vicente (não Vicente´s, como uma criatura iluminada designou, pensando talvez tratar-se dum restaurante italiano). Fala-se se de escusas no júri. Por que será? Tal como as demais nomeações, terá de ser em breve “não vá o diabo tecê-las”.
A economia da Madeira alegadamente cresce há 70 meses. A minha não cresceu um cêntimo. A sua cresceu? Sendo verdadeira esta afirmação, então afinal para quem será que cresceu?
Tudo o que de bom se fez por cá é mérito do GR, tudo o que falta ou não se fez, a culpa é do Costa. Com a previsível vitória do Costa, este PPD estará em condições de negociar o que quer que seja? O que poderá fazer para combater o centralismo? Podem berrar e espernear à vontade, pois Costa que não precisa do PPD-M para nada, se lhe apetecer, fará exclusivamente o que a Constituição e a Lei das F. Regionais o obrigam. A saúde, por exemplo está regionalizada. Se Costa quiser, “chuta para canto”. Fazer isto ou aquilo, não é importante, o que interessa mesmo ao PPD é que a situação se mantenha e que eles e os amigos continuem a “aproveitar”.
Sintoma da mentalidade gueto do PPD, é por exemplo a comemoração dos 600 anos da descoberta da Madeira. Criando à partida a comemoração doméstica, intestina, como se a Madeira tivesse sido descoberta pelos madeirenses e não pelos portugueses como foi efetivamente. Fez-se uma comemoração míope, perdendo a oportunidade de envolver o todo Nacional, com todos os benefícios que daí adviriam.
Depois das últimas eleições para a AR, Passos Coelho, andou meses a “bradar aos céus”, que com o PS, no governo, viria o diabo e que viria a bancarrota. Acontece que o diabo não veio e que, para a maioria de nós, a vida está melhor, O PPD-M, usa o mesmo discurso, a mesma tática. Procura a todo o custo fazer-nos querer que se não forem eles a governar, será o “fim do mundo”.
O importante é interromper este “círculo interminável” de 40 anos. As raízes do PPD-M, são profundas, estão em todas as casas do Povo, Clubes, Associações. Não se distingue o PPD da máquina administrativa. Uma vez interrompido o ciclo é fácil de quatro em quatro anos, avaliar a governação e fazer escolhas diferentes. Se não nos governarem bem, será fácil ao fim de quatro anos, escolhermos outros. Poderão inclusivamente voltar a ser escolhidos outra vez os do PPD se as pessoas assim o entenderem.
As últimas eleições autárquicas mostram-nos que nas câmaras ganhas pela oposição e pelos independentes, as dívidas pagam-se, a obra nasce, a “coisa” funciona, mesmo com a recusa de Albuquerque em fazer contratos programa. Esta é a prova provada de que se o PPD ao perder as eleições, não foi o fim do mundo, antes pelo contrário, com as “novas cabeças”, novas ideias e novos procedimentos, não é o paraíso, mas as coisas até melhoraram. Vendo bem, quatro anos, passam num instante.