Congresso dos 600 anos e outros
Queime-se de imediato Macedo na fogueira e regressemos rapidamente ao céu
1. E do pouco se fez muito
Terminou “em beleza” o congresso “Lugares Pioneiros Machico – Funchal: As Primeiras Aldeias Globais. Cultura, Religião, Ciência Inovação e Empatia”, promovido pelas câmaras de Machico e do Funchal, herdeiras diretas das primitivas capitanias.
Este congresso organizado pelo CLEPUL Madeira e pela ADEGI decorreu ao longo de dois dias, de forma descentralizada em Machico e no Funchal, contou com cerca de 50 comunicações em salas funcionando paralelamente, entre as quais se destacam as intervenções de Lipovetsky, Daniela Marcheschi, Moisés Lemos Martins e Rui Vieira Nery, bem secundadas por várias outras relacionadas com a temática do congresso. Presentes em cada um dos dias estiveram cerca de 250 participantes. As intervenções serão brevemente publicadas.
Este congresso foi a prova cabal de que, à margem das dispendiosas comemorações oficiais, se podem levar a cabo iniciativas congregando mais vontades e disponibilidades do que recursos económicos, o que, no entanto, não foi impeditivo de garantir presenças de âmbito nacional e internacional, colocando assim a Madeira nos mapas da cultura e do futuro.
2. E do muito se fez nada
Não pretendo emitir opiniões sobre matéria que não domino, pelo que me vou referir apenas a factos relativos à liturgia do processo. A Comissão de Inquérito à medicina nuclear foi mais uma vez presidida pelo PSD. Parte significativa dos depoentes foram chefes dos vários serviços, que não são eleitos pelos seus pares, mas nomeados pela Administração do Hospital, que por sua vez, foi nomeada pelo governo PSD. Assisti à “fatwa” lançada em direto a vivo e a cores na TV, com uma raiva mal contida sobre Rafael Macedo, com uma persecutória e jardinista suspensão, antes do apuramento dos factos. Desconfio da legalidade da medida. Quanto à mudança das fechaduras do serviço é de uma absoluta “falta de chá”.
No meu entender, o que se pretende, à semelhança de outras comissões que “não deram em nada”, é lançar uma “cortina de fumo” sobre a situação, ou antes um “corta fogo”, como aquelas queimadas controladas que os bombeiros fazem na direção da progressão do incêndio, para quando este chegar lá, já não haja nada para arder e morra por aí. Para quê agilizar a oferta no SRS, de outros exames no âmbito da medicina nuclear? Afinal a Quadrantes responde tão bem. Saravá Passos Coelho. É necessário “cortar a cabeça ao mensageiro”, que híper reagiu às provocações, pôs-se “a jeito”, “disparou em todas as direções”, falou demais e “enterrou-se”. Como se pode levar a sério uma comissão de inquérito, onde tanto a presidência da comissão como a direção do hospital são do PPD. A recusa duma nova audição ao “alvo” do inquérito é bem sintomática. Ao discutir exclusivamente Macedo, desapareceu por completo da discussão a questão essencial, o porquê fazer os exames no privado mais caros, reduzindo a oferta do SRS a apenas dois tipos de exame, quando o SRS pode dar resposta a todas as necessidades dos utentes. A narrativa oficial da saúde e da região maravilha não pode ser questionada. Queime-se de imediato Macedo na fogueira e regressemos rapidamente ao céu, a esse céu onde quase metade da população do Funchal não tem médico de família e onde até os rastreios dos cancros do colon e da mama deixaram de ser feitos.
3. E do nada se fez nada
À falta de ideias e de outras causas, anda a direita entretida com a existência de várias relações de parentesco no governo da República. Ao contrário do que acontece na administração, das empresas e da função públicas, onde deveria prevalecer a igualdade de oportunidades e de condições de acesso para todos os cidadãos, os governos são equipas onde os principais critérios de admissão são a competência e a confiança. Pessoalmente “estou-me nas tintas”, para o facto de os ministros serem pais, filhos, irmãos ou cunhados, desde que apresentem bons resultados. Se a competência desses governantes estiver em causa então a questão será outra. Espero é que façam bem o seu trabalho, até porque não sendo o acesso ao governo feito por concurso, mas por confiança, não estão a roubar o lugar a ninguém, como infelizmente acontece em muitas outras situações na administração pública. Comparar esta situação, com a família de José Eduardo em Angola é da mais pura demagogia.
4. E do muito se fez pouco
Com parangonas foi noticiada a distribuição de kits de robótica pelas escolas, no valor de 150.000€. Ena pá, tanto! Para uma nova “sala inovadora” numa escola pública, foi necessário recorrer ao patrocínio empresa privada da Região, porque 25.000.000€ da SRE foram destinados a subsidiar o ensino privado, que é redundante, excedentário e freirático na sua maioria e retira recursos indispensáveis ao ensino público. Não havendo dinheiro para tudo, o GR PSD como neoliberal de gema, tem ideologicamente as suas prioridades bem definidas. Saravá escolas privadas, saravá Passos Coelho.
Felizmente outubro é já ali, ao virar da esquina.