Violência no Mali já causou 260 mil refugiados e deslocados
A violência no Mali já provocou 260 mil refugiados e deslocados, segundo uma responsável das Nações Unidas, que pediu um reforço da ajuda humanitária, estimando que 3,2 milhões de pessoas precisam de assistência.
“O Mali vive entre o caos e a esperança”, declarou, numa conferência de imprensa em Genebra, a responsável do Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), Ute Kollies, destacando que garantir assistência humanitaria ao país é “também investir em segurança”.
Perante o agravamento da situação humanitária no país, resultante de conflitos entre comunidades, ataques de jihadistas, mas também dos efeitos das alterações climáticas, é necessário “introduzir uma abordagem que considere o investimento em ajuda humanitária como um investimento em segurança”, observou Kollies.
O plano de resposta humanitária do OCHA no Mali para 2019 é de 296 milhões de dólares (263 milhões de euros), mas desde janeiro o Mali recebeu apenas 9% desta verba, o que é muito pouco, estimou a responsável da ONU, apelando a um reequilíbrio entre os gastos humanitários e de segurança no Mali.
O OCHA estima que 2,7 milhões de pessoas se encontram atualmente em situação de insegurança alimentar e 660.000 crianças com menos de cinco anos em risco de desnutrição aguda.
“Um homem com fome é um homem com raiva” e “é importante que os homens tenham algo para comer, assim como suas famílias”, a fim de “estabilizar a população” e regressar a uma situação mais favorável à “mediação”, destacou.
A comunidade internacional “olha para o Mali sob a lente do terrorismo e da imigração ilegal” e, por isso, fornece “uma resposta baseada no reforço da segurança”, segundo Kollies.
De acordo com seus cálculos, os gastos internacionais para financiar o destacamento de forças de segurança no Mali, nomeadamente através da Missão da ONU (Minusma) e da força conjunta do G5 Sahel, são de cerca de três mil milhões de dólares por ano (2,7 mil milhões de euros).
O norte do Mali foi tomado em março-abril de 2012 por grupos jihadistas, entretanto dispersos por uma intervenção militar lançada em janeiro de 2013 por iniciativa de França.
Mas zonas inteiras escapam ao controlo das forças malianas, francesas e da ONU apesar da assinatura, em 2015, de um acordo de paz que pretendia isolar definitivamente os jihadistas. A partir de 2015 a violência propagou-se ao centro do país, mais densamente povoado agravando os conflitos intercomunitários.
Um massacre imputado a caçadores Dogon que se apresentavam como um “grupo de autodefesa” antijihadista fez cerca de 160 mortos na aldeia Fula de Ogossagou, perto da fronteira com o Burkina Faso, a 23 de março.
O Mali converteu-se também numa zona perigosa para as forças das Nações Unidas, já que 119 “capacetes azuis” morreram e 397 ficaram feridos em consequências dos ataques de grupos armados desde 2013