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Dezassete (17): Mais sindicatos na PSP do que Apóstolos na Galileia

Caros leitores: faço hoje uma pausa nos meus artigos. Às portas do verão, com o panorama sindical interno pejado, é difícil manter o registo ligeiro das crónicas. Prometo voltar já para o próximo mês, pois afinal a primavera está para durar. E faço esta pausa para publicar uma carta aberta aos senhores deputados da Assembleia da República Portuguesa, em consequência do nascimento em Fevereiro do 16º sindicato da PSP e muito recentemente, em abril o 17º sindicato, desta feita em Braga.

Senhores deputados tomo a liberdade de me dirigir a vossas excelências e gostaria de lhes dizer que a PSP vive num mundo perfeito. Mas estarei a mentir. A verdade é que, embora a PSP tenha percorrido um longo caminho em termos tecnológicos, em termos de sucesso e de eficiência conjunta dos seus profissionais, esta não é a nossa melhor hora. O que está em causa é a própria democracia e o futuro da instituição PSP. Este tipo de sindicatos que nos é caro e que já tantas vezes, noutros tempos e lugares, foi destruído pela forma como os representantes – os dirigentes e delegados sindicais - entendem a sua missão. E se a compreendem bem ou mal a executam, pior ainda.

Senhores deputados são os próprios profissionais da PSP a dizer que é “uma vergonha” o que se passa na polícia, alguns dos sindicatos têm mais dirigentes que sócios e segundo o regime em vigor, cada dirigente tem direito a quatro folgas, repito quatro folgas por mês para a actividade sindical. Os delegados têm 12 horas. Meus senhores, tudo somado, de acordo com os dados da Direcção Nacional da PSP, em 2017 o total de 3680 dirigentes e delegados tiveram mais de 36 mil dias de folgas.

Meus senhores só podem ter noção da vossa responsabilidade: quer agora, enquanto deputados activos, quer sobretudo no eventual exercício de funções futuras, tendes a obrigação de saber o que se espera de vós. De saber o que isso significa. E de agir em conformidade: de exercer o poder com respeito pela instituição PSP e pelos seus profissionais, decidir em consciência conforme ao vosso compromisso e não criar novas limitações à actividade sindical como aconteceu na última proposta de lei apresentada pela ex-ministra da Administração Interna Constança Urbano de Sousa, entretanto chumbada por vós, cujo objectivo era condicionar o número de dirigentes à representatividade da estrutura, tal como acontece noutros sectores públicos do Estado.

Meus Senhores, o pedido que vos faço, que vos grito, é que encarem esta proliferação de sindicatos na PSP como uma oportunidade. Pode ser a última. Basta. É tempo de mudar o sindicalismo que se faz na PSP. Tem de mudar agora, agora mesmo, antes que seja tarde, seja quem for que vença nas próximas eleições.

Repito, basta. Os Polícias estão fartos. A PSP é maior do que os vossos e os nossos nomes: a PSP tem um passado de 151 anos que agradecemos, o presente que desfrutamos e o futuro que queremos ter. É essencial, para a manter, que tudo mude. Ou, pelo menos, que mude o essencial como foi proposto na forma de lei na assembleia da república que vós simplesmente não considerastes e o maior de todos os mal-entendidos é pensar que se ganha alguma coisa com este circo. Parabéns acabam de transformar a PSP e os seus profissionais num “CEMITÉRIO”.

E se o que for melhor para a PSP, meus caros deputados, futuros ministros, não for o melhor para vós, para o vosso partido ou os vossos amigos, pois bem, tanto pior.

Servir é agir de acordo com o que for melhor para o nosso país e para a nossa POLÍCIA.