Mundo

Dezenas de pessoas concentraram-se frente à embaixada do Brasil em Lisboa “contra o golpe”

None

Algumas dezenas de pessoas concentraram-se hoje frente à embaixada do Brasil em Lisboa numa ação de protesto contra a ordem de prisão do ex-presidente Lula da Silva, e entregar um texto assinado por dezenas de organizações.

A iniciativa partiu do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), que desde a manhã de hoje garantiu a adesão de mais de 30 organizações políticas e sociais a um texto que “repudia o golpe institucional”, expressa “viva solidariedade ao povo irmão brasileiro e à sua luta para salvaguardar os direitos e garantias democráticas” e apela à resistência “a um poder crescentemente repressivo e autoritário”.

“Estamos aqui para repudiar a condenação no Supremo Tribunal Federal (STF) de Lula e solidarizar-nos com o Presidente Lula que está agora praticamente num exílio forçado dentro do Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo, na grande São Paulo, onde começaram os seus 50 anos de carreira política e sindical, de líder social”, referiu à Lusa Bruno Falci, um estudante brasileiro que vive em Lisboa e um dos dirigentes do Coletivo Andorinha-Frente Democrática Brasileira.

Esta organização, uma das subscritoras do documento e que reúne brasileiros que vivem na capital portuguesa, surgiu em 2016 no decurso da destituição da ex-presidente Dilma Rousseff, também eleita pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e afastada “num processo ilegítimo”, como referiu.

“Resistimos nesse local e estamos aqui, como muitos brasileiros estão em toda a parte do mundo diante das embaixadas, para nos solidarizar com a luta em São Bernardo, que agora é a capital do Brasil”, assinalou Bruno Falci.

Frente aos portões encerrados da embaixada exibiu-se uma bandeira do PT, enquanto ecoaram palavras de protesto contra a ordem de prisão do antigo Presidente, favorito em todas as sondagens para as presidenciais que decorrem no final de 2018.

Maurício Moura, também do Coletivo Andorinha e com nacionalidade portuguesa, também contestou com veemência a decisão do STF, acusou a justiça brasileira de estar a desrespeitar a lei e considera que a violência já se instalou no Brasil.

“Desde o início do golpe [que destituiu Dilma Rousseff em 2016], já foram assassinados no Brasil 27 líderes comunitários e ativistas. Nem durante a ditadura militar foi assassinada tanta gente de forma tão rápida, como está a acontecer agora. As caras desta situação são o sistema judiciário, e os ‘media’, que falam abertamente em golpe”, denuncia.

O ativista considera ainda que a atual evolução política no Brasil, sobretudo após a designação para o Palácio do Planalto do atual chefe de Estado Michel Temer, tem objetivos precisos.

“A Petrobras, a sétima maior empresa do mundo e a maior empresa do Brasil, está a ser destruída para ser vendida. O governo ilegítimo colocou todas as empresas estatais à venda. Os correios, hidroelétricas, todo o património estatal brasileiro que é gigantesco, está todo à venda. Foi isso o que o golpe fez”, afirmou.

Entre os subscritores do texto de protesto, e para além de associações, sindicatos, a central sindical CGTP, frentes e organizações de juventude, incluem-se ainda o Partido Ecologista Os Verdes, o PCP e a Associação Intervenção Democrática.

“O PCP está solidário com a luta do povo brasileiro, desde o primeiro momento foi o partido que disse de forma coerente e clara que se tratava de um golpe e não de qualquer tentativa de combate à corrupção”, assinalou à Lusa a deputada comunista Rita Rato, que se juntou ao protesto.

“O que está por detrás deste processo é uma tentativa antidemocrática de afastar a presidente Dilma da presidência do Brasil e impedir Lula da Silva de se candidatar à presidência, porque é o mais apoiado pelo povo brasileiro”, prosseguiu.

“E desde o primeiro momento que os golpistas tentaram por essa via impedir a candidatura de Lula da Silva. Trata-se de um ataque à liberdade e aos direitos democráticos de um povo. E quando o sistema judicial no Brasil é cúmplice dos golpistas”, frisou.

Ao seu lado, Filipe Ferreira, da direção do CPPC, assegura que a lista de subscritores vai registar mais adesões.

“Enviámos para vários partidos portugueses e estamos a aguardar, o texto foi lançado esta manhã. Teremos outra iniciativa para a semana, contamos com uma maior mobilização para dar mais força a este processo”, adiantou.

A embaixada já estava encerrada e o texto foi deixado na portaria. Para a próxima quarta-feira, às 18:00 já foi convocado mais um ato público de protesto, pelas mesmas organizações, também frente à embaixada do Brasil.