"Nenhum plano de harmonização deve afastar a actividade turística"
"Medidas inadequadas podem fazer regressar às ruas de Lisboa tempos recentes, aos quais ninguém quererá voltar". A severa advertência foi deixada abertura do 43.º Congresso Nacional da APAVT, que hoje começou, em Macau, por Pedro Costa Ferreira, que afirmou ter o dever de "chamar a atenção" particular da tutela e da Confederação do Turismo Português para "o tema da operação turística na cidade de Lisboa".
O presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo entende que as medidas implementadas podem fazer regressar algo "assustador" às ruas da cidade, referindo-se, sobretudo, às restrições impostas pela Câmara de Lisboa à circulação de autocarros turísticos na zona histórica da capital, mas também a novas medidas em estudo, que julga serem "alterações profundas".
Apesar de concordar com os objectivos de "harmonização do crescimento com a qualidade de vida dos habitantes da cidade e que o trabalho de quem tem o pelouro do turismo na Câmara de Lisboa "tem sido muito meritório", entende que "nenhum plano de harmonização deve afastar a actividade turística, antes deve exactamente tê-la permanentemente em conta".
Daí que a APAVT faça um "apelo à tutela do Turismo e à CTP, que se incluam, e liderem, os trabalhos de negociação" em curso sobre estas matérias sob pena de haver um perigoso regresso ao passado. "Estamos a trabalhar em cima de realidades que cresceram muito, mas que se mantêm, acreditem, frágeis. Se não tivermos cuidado, voltaremos a ter sossego nas ruas de Lisboa. Mas daquele sossego assustador, que acompanha quem não pode sair à rua, com medo de ser assaltado, das drogas e da prostituição", sublinhou Pedro Costa Ferreira.
Sobre esta mesma matéria a 8 Agosto último, a Confederação do Turismo Português (CTP) tinha defendido a suspensão das restrições impostas pela Câmara de Lisboa à circulação de autocarros turísticos na zona histórica da capital, para reavaliar o impacto no sector. Em comunicado, a CTP deixava o aviso: "as restrições que a Câmara Municipal de Lisboa acaba de impor à circulação de autocarros de turismo em determinadas áreas da cidade têm um impacto negativo na actividade turística, nomeadamente junto das empresas que atuam no segmento MICE - Meetings, Incentives, Conferences, Exhibitions", isto é, dedicadas à organização de eventos para grandes grupos.
Para a confederação, a autarquia devia "suspender a medida, de forma a reavaliar o seu efeito económico e empresarial e ajustá-la no quadro de um diálogo aberto e construtivo com os agentes do turismo".
No final de Julho, o município da capital informou ter proibido a circulação de autocarros turísticos com mais de nove lugares nos acessos à Sé e ao Castelo de Lisboa, visando evitar problemas para os moradores, ao nível do ruído e do congestionamento do tráfego, entre outros.
"Aquilo que pretendemos é que, se os circuitos turísticos estão todos regulamentados, os ocasionais não estão regulados e, portanto, há que regular a circulação dos veículos ocasionais de transporte de passageiros", disse na altura à agência Lusa o vereador do Planeamento, Manuel Salgado.
O autarca explicou que a Câmara já interveio "nas zonas que são críticas, nomeadamente acessos à Sé e ao Castelo, no eixo rua Jardim do Tabaco e rua Cais de Santarém, junto ao Museu do Fado", colocando sinais proibitivos.
"Depois, a partir de 01 de setembro, pretendemos condicionar a circulação na rua do Alecrim, Chiado, rua da Misericórdia, rua D. Pedro V, até ao Rato, portanto todo esse eixo", indicou.
Manuel Salgado informou, também, que "a um prazo mais longo, já certamente em 2018", a Câmara pretende "regular" toda esta área que fica compreendida "entre a Avenida Infante Santo, Estrela, Rato, Rua Alexandre Herculano, Avenida da Liberdade até à Avenida Almirante Reis, e depois Praça do Chile, Praça Paiva Couceiro, até ao rio".