Turismo da Madeira mais dependente de estrangeiros
Na última década, mais coisa menos coisa, a hotelaria madeirense tem atravessado uma espécie de contradição nos números. De 2002 a 2012 (11 anos), mas também já contabilizando 2013, regista-se um crescimento no número de hóspedes entrados e das dormidas, em detrimento do número de unidades em funcionamento, bem como do rendimento por quarto disponível (RevPar). Mas a situação mais paradoxal é o facto de diminuir o peso dos turistas residentes em Portugal compensado com um reforço dos estrangeiros.
Aproveitando a disponibilização de dados do Turismo, pela primeira vez no portal PORDATA, com base em dados do INE, a agência Lusa destacou a evolução do sector entre 2002 e 2012, realçando o facto de o número de estabelecimentos ter quase duplicado no País e, à semelhança da Madeira, o RevPar baixou. No entanto, se num caso pode-se compreender por haver maior concorrência o que pode levar, indubitavelmente à diminuição dos preços. No caso da Região, deveria acontecer o contrário, isto se o número de estabelecimentos estivesse directamente relacionado com uma alta de preços.
No caso do número de hóspedes, todos os indicadores são favoráveis, mostrando que a esse nível o turismo em Portugal está em alta, apesar de algumas variações negativas nalguns anos nessa década. Nas dormidas, “até 1978 as dormidas de residente em Portugal foram quase sempre superiores a 50% do total” e, a partir dessa data, as dormidas de nacionais começam a perder importância - representando nos últimos anos apenas cerca de um terço das dormidas - para as dormidas de estrangeiros”, nota a demógrafa e docente universitária, directora da PORDATA, Maria João Valente Rosa.
Na Madeira, o número de hóspedes em 2002 atingia cerca de 831.975 turistas, passando para 841.963 pessoas em 2012, representando um aumento de apenas 1,2%, quando no País foi de 16%. No que toca ao peso dos estrangeiros, em 1978, estes representavam 76,1% (1.483.147 de um total de 1.947.611 dormidas). Passados vários anos, em 2002 os estrangeiros representavam 85,6% dos 5.468.706 dormidas, face a uma cada vez menor representatividade dos turistas nacionais (785.829). Onze anos depois (2012), num ano que até nem foi de especial relevância na Região, das 5.507.685 dormidas, os estrangeiros já pesavam em 89,6% e em 2013 essa diferença passou para 89,8%. O que significa que praticamente nove em cada 10 visitantes à Madeira são residentes no estrangeiro. Em 1978, os portugueses representavam muito mais para a hotelaria madeirense do que hoje.
Voltando ao número de hóspedes entrados a situação é praticamente igual, mas com uma ligeira diferença para menos - indício que os estrangeiros permanecem mais tempo cá que os portugueses, que passam menos dias de férias nestas ilhas -, pois em 2002 do referido número de hóspedes (quase 832 mil), 628.993 foram estrangeiros (75,6%) e apenas 202.982 foram nacionais. Em 2012, dos quase 842 mil hóspedes entrados, 668.369 (79,3%) eram provenientes de países terceiros, enquanto 173.594 eram de Portugal. No ano passado, apesar da recuperação dos turistas nacionais (182.510), o peso dos estrangeiros (734.983) no total (917.493) atingia já os 80,1%. Ou seja, apenas dois em cada 10 hóspedes eram residentes em Portugal.
Por outro lado, como referido, o número de estabelecimentos diminuiu de forma abrupta entre 2002 e 2012, de 191 para 161 e ainda menos no ano passado (159), sendo que a maioria (50, 61 e 64, respectivamente para 2002, 2012 e 2013) eram hotéis, o único tipo de estabelecimentos a aumentar no período. Tanto os hotéis-apartamentos como os apartamentos turísticos, as pousadas, estalagens, pensões e aldeamentos turísticos ou diminuíram muito ou cresceram ou mesmo inexistentes em 2002. Uma nota à parte para o turismo em espaço rural que tinha 41 unidades em 2002, passou para 52 em 2012 e no ano passado baixara para 50.
No que toca ao RevPar, entre 2002 e 2012, apenas as estalagens (34 para 39,54 euros) e pensões (14,72 para 19,47 euros) aumentaram os preços médios praticados, sendo que os hotéis que há pouco mais de uma década dominavam no rendimento médio mais alto que retiravam por quarto (37,52 euros) baixaram em 2012 para 35,30 euros. No entanto, 2013 foi uma recuperação para todos os tipos de estabelecimentos hoteleiros, excepto para as pousadas (13,59 em 2012 para 13,33 euros em 2013), registando-se por isso uma média em alta de 34,83 euros face aos 31,42 euros em 2012 e muito melhor que em 2002 (32,38 euros). De friar que no ano passado, o RevPar das estalagens ascendeu a uns extraordinários e exemplares 46,79 euros, muito melhor que os hotéis (38,87 euros).
Números que 2014 poderão ver melhorados a todos os níveis, a avaliar pelos resultados até Maio.
Números relevantes
191 - Em 2002, a Madeira tinha 191 unidades hoteleiras. Em 2012 passou a ter menos 30. E no ano passado já eram menos duas, 159.
831.975 - Em 2002, quase 832 mil hóspedes entraram nas unidades hoteleiras. 75,6% eram estrangeiros. Em 2012, já representavam 79,3%. Um ano depois já eram 80,1% dos clientes.
5.468.706 - Em termos de dormidas, a mesma situação. Se em 2002 os estrangeiros representavam 85,6% das dormidas, em 2012 já eram 89,6%. Em 2013 ascendiam a 89,8%.