Turismo

Promoção à deriva

A promoção turística de Portugal, se é que existe, anda à procura de rumo e de consensos, de um “pacto de regime” e estratégia de longo prazo que não dependa dos ciclos políticos e dos sucessivos governos que tudo mudam.

Para além de um necessário entendimento dos partidos do arco da governação, em nome da estabilidade no sector, os privados são desafiados a cooperarem numa solução eficaz para que o essencial aconteça, para que Portugal seja capaz de atrair mais turistas. Mas de que forma se concretizará, sem sobreposições, nem atropelos, tamanha concertação público-privada? E com que verbas?

Depois de 10 anos assentes num modelo agora esgotado, embora com méritos, mas a padecer de falhas - as mais questionadas são a centralização, as matrizes rígidas, a falta de coerência de campanhas, as acções desreguladoras do mercado e ainda objectivos irrealistas - os diversos agentes do sector entendem que a promoção agora “desenquadrada” precisa dos privados e de um novo modelo a ser implementado até 2015.

O problema é acertar o passo e definir pelo menos uma ideia que sobreviva ao tempo. No XXXIX Congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), que ontem terminou na ilha Terceira, no debate sobre os ‘Novos rumos para Promoção’ e com os contributos de vário oradores, ficou patente uma tremenda balbúrdia nesse capítulo, já que há mais dúvidas do que certezas, mais opiniões do que decisões, mais desejos pessoais do que convicções colectivas.

Numa altura em que parece haver vontade política para a criação de um novo modelo para a promoção e de uma agência nacional de promoção turística, surgem suspeitas que o jogo dos interesses e dos lugares é quem mais ordena, num país sem dinheiro para afirmar-se em muitos mercados, que não capta fundos comunitários acrescidos para o sector e que tem um excesso de entidades promotoras do destino, peritas em duplicações de acções.

As convicções de Matoso

O congresso serviu para o administrador do Turismo de Portugal, que tem o pelouro da promoção, lamentar a falta de estratégia num sector onde muita gente tem opinião, para exortar ao trabalho conjunto, mas também para levantar dúvidas ao tipo de intervenção dos privados numa futura Agência que nem devia ter promoção na sua designação, pois na sua óptica, “a promoção acabou”, sobretudo em países como Portugal que não têm capacidade para actuar em diversas vertentes, nem dinheiro que garanta eficácia na comunicação de 8 marcas.

Para Luís Matoso há ainda outros dramas no sector. Refere haver excessos na promoção turística, “com 14 entidades, mais o Turismo de Portugal, a intervir nesta área”. Admite que “a marca Portugal não existe, pois vai além do turismo e não houve vontade política para discutir o que é que o País quer”. Que não há “consistência da marca Portugal, não podemos fazer ‘shots’ de comunicação, ou outdoors em Berlim” sem que haja uma consolidação da actuação.

Matoso lamenta que se fale muito na fórmula e pouco da estratégia. Julga por isso que “as regiões têm que intervir, mas têm que conseguir ajustar o produto para sabermos o que vamos vender”; que o Turismo de Portugal deve ser mais criterioso na atribuição de verbas, designadamente para as rotas de interesse turístico, pois confessa que “o Turismo de Portugal não sabe nada de rotas e de aviação e já distribuiu 20 milhões de euros”; e que o turismo deve equacionar como participar nos fundos comunitários, fora do quadro comunitário, a exemplo do que fez o sector vinícola que foi buscar 50 milhões de euros para apoios à exportação.

Fundos na mira do Turismo

A questão dos fundos comunitários é aliás motivo de reparo aos políticos, que deviam definir acessos aos mesmos, de acordo com a importância de um sector que gera oito mil milhões e meio de euros de receitas e que perspectiva um investimento de 45 milhões de euros para a promoção. “Isso é bem mais importante do que definir quem vai fazer promoção”, referiu Luís Matoso.

Os fundos comunitários é aliás um dos dossiers que o novo presidente do Turismo de Portugal considera prioritário. Cotrim Figueiredo afirmou ontem, à margem do congresso da APAVT, que “o turismo tem sido sistematicamente mal tratado na forma com os fundos são afectos”. “Há coisas que são difíceis de entender. Definir o turismo como uma actividade não industrial, transaccionável, não exportadora, tem levado a que dificilmente muitas actividades turísticas se encaixem em linhas de apoio e em incentivos que teria sido importante terem sido utilizados no passado”, lamentou.