A crise que o turismo regional vive actualmente, já levou a que várias unidades hoteleiras tenham sido colocadas no mercado para venda. Eduardo Jesus, da Ordem dos Economistas, contabilizou pelo menos 12. Mas é possível que esse número, se incluirmos pensões, pousadas e unidades de turismo rural, seja um pouco superior.

Quanto às razões que levaram os empresários a colocar no mercado os hotéis, o referido economista aponta, essencialmente, a viabilidade das mesmas. "As situações que eu conheço, que estão à venda, têm como grande razão a viabilidade e a viabilidade porque, quando foram construídos ou objecto de investimento ou de remodelação, tiveram como base uma realidade que não é a que se verifica."

Eduardo Jesus, sempre se referindo à realidade que lhe é próxima, explica que as unidades "foram objecto de grande investimento, dependência de capitais externos numa fase, que deveria ter sido seguida de uma outra de crescimento do sector. Como não houve crescimento, não há retorno".

Para exemplificar o que afirma, o economista lembra algo já revelado nas conferências de Turismo, organizadas na Madeira pela Ordem dos Economistas. "A Madeira tem perdido imenso no que diz respeito ao rendimento por quarto disponível." Eduardo Jesus acrescenta: "É preciso recuarmos mais de 20 anos para encontrarmos um rendimento por quarto disponível como praticamos hoje em dia. É por essa razão que nenhuma grande cadeira internacional está hoje aqui na Madeira. Já tivemos Holiday Inn, Sheraton, Crowne Plaza, uma série de cadeias internacionais, todas elas saíram daqui porque nisto não é rentável investir."

É possível mudar realidadeO dirigente da Ordem dos Economistas entende, ainda assim, que a realidade não tem obrigatoriamente de continuar como a actual. Eduardo Jesus exemplifica com o que aconteceu em 2008, um dos melhores anos para o turismo madeirense, dos últimos 30. "O ano de 2008 foi excelente para a Madeira. Foi um ano subsequente a um de promoção muito bem concretizada. Foi o 'boom' da AP - Associação de Promoção, funcionou muito bem nessa altura, com reforço de verbas e etc., que teve consequências em 2008. Foi dos melhores anos que a Madeira teve nos últimos 30. Só que não foi uma política continuada. Daí para cá os problemas agudizaram-se."

A falta de informação actualizada, que possa fundamentar as políticas de turismo da Região, é  uma lacuna apontada pelo economista. "A última conta satélite do turismo é de 2001. Significa que o último estudo sério feito ao sector tem 11 anos. Nenhum sector consegue ser governado com ausência de informação de natureza estratégica."

A Ordem dos Economistas, como tem ficado claro nas já referidas conferências de turismo, defende a existência de um Plano Estratégico para o Turismo.

O DIÁRIO tentou obter, da Secretaria do Turismo, uma leitura do facto de haver mais de uma dezena de hotéis à venda. Mas, até ao fecho da edição, isso não foi possível.

Unidades Turísticas: à venda por toda a RegiãoA venda de hotéis acontece sobretudo na zona do Funchal, mas não só. Eduardo Jesus fala em, pelo menos, três unidades, das 12 que contabilizou, à venda fora do Funchal. Unidades hoteleiras que vão das três às cinco estrelas.

Uma consulta a sites especializados, na Internet, permite constatar haver vendas para 'todos os bolsos'. Por cerca de 500 mil euros é possível adquirir uma pousada em Santa Cruz. Já para a compra de quatro hotéis de charme, que só são vendidos em conjunto, são pedidos 27 milhões de euros.

Na freguesia de São Martinho, onde está localizado o maior número de unidades hoteleiras da Região, estão vários hotéis à venda. Uns praticamente novos, outros remodelados. Aliás, esse é um facto que Eduardo Jesus confirma.

Numa altura de crise no Turismo e em que tanto hotel está à venda, que razões podem existir para que um empresário invista na compra de uma unidade? "Podem aparecer reposicionando essa oferta de outra forma, ou integrando, procurando economias de escala com outras unidades que tenham. Temos assistido a algumas mudanças de titularidade de hotéis", explica Eduardo Jesus.

A venda de hotéis, apesar de alguns constarem de sites na Internet, é revestida de muito secretismo, dando razão ao velho ditado de que 'o segredo é a alma do negócio'.