Turismo

Associação de Promoção está falida e bloqueada

As contas da Associação de Promoção da Madeira (AP) são de fugir. Dados recolhidos pelo DIÁRIO indicam que os "atrasos são vergonhosos" e que a injecção de capital na estrutura com responsabilidade na promoção do destino é urgente.

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Os montantes em dívida são altos. Só a Direcção Regional de Turismo deve 1,5 milhões, a que acrescem 595 mil euros do adicional deste ano. Como se não bastasse o incumprimento oficial, o adicional de 2012 levou corte de 15% em relação a anos anteriores e, para o ano, está previsto mais um corte de 10%. Mas há mais: a DRT deve também 133.865 euros de comparticipação de despesas de funcionamento para este ano.Por seu lado, o Turismo de Portugal deve 2,2 milhões de euros de 2012, montante que chegou a fazer saber que não paga enquanto o turismo madeirense não liquidar a sua fatia. Uns e outros terão prometido pagamentos para breve, o que alivia preocupações já tornadas públicas pela ACIF.A vergonha até pode ser bem pior se os Planos de Comercialização em Venda (PCV) não forem pagos directamente aos privados que os fizerem. É certo que os privados também devem à AP. As quotas em atraso rondam os 500 mil euros. O problema é que, por sua vez, a AP deve aos privados que fizeram os PCV cerca 600 mil euros (278 mil de 2011 e 320 mil de 2012). Na prática, a única promoção que tem sido feita no último ano é da responsabilidade dos privados, que meteram 1 milhão e 200 mil euros e não receberam os 600 mil contratualizados.A AP deve 2 milhões de euros a outros fornecedores. A consequência é inevitável: todas as campanhas de promoção estão bloqueadas.A fragilidade financeira da AP tem implicações a diversos níveis. Por exemplo, que não haja maximização do investimento privado e que as diversas entidades envolvidas não consigam executar todo o orçamento aprovado para 2012, nomeadamente naquilo que à comparticipação dos privados diz respeito.A degradação da relação com os clientes, a não satisfação dos contratos estabelecidos com os operadores e a desconfiança que se instala no mercado são aspectos marcantes em todo este processo.easyJet admite atrasos mas dá "tempo razoável"Para além das campanhas do destino Madeira estarem bloqueadas, há garantias que alguns contratos não são honrados, o que leva os operadores turísticos a ameaçar com processos em tribunal e companhia a equacionar retirada de ligações aéreas.A easyJet não nega problemas, mas prefere ser prudente. O director-geral ibérico da easyJet, Javier Gandara, garante ao DIÁRIO que "as coisas legais devem ser a última alternativa". Admite que as relações tanto com ANAM, como com o Turismo da Madeira  são "boas e cordiais". Daí que deixe a garantia: "Não pensamos em negociar com ameaças, mas com diálogo. Não negociamos a curto prazo, o nosso compromisso é sempre a longo prazo. Isso não quer dizer que se uma rota não está a ser rentável, que não acabamos com ela, como aconteceu entre Funchal e Bristol. Mas nunca vamos estar com ameaças, nem com uma visão de curto prazo".Mas há alguma verba em atraso? Javier Gandara é peremptório: "Não há um atraso muito significativo. Não é só em Portugal que as questões de tesouraria não são como antes, mas a easyJet é uma empresa muito forte em tesouraria. Temos sempre em média mil milhões de libras, não precisamos desse dinheiro para continuar a operar. Esperamos um tempo razoável para ter as nossas participações contratuais e fazemos isso também na Madeira".Perguntas que aguardam resposta oficial"O DIÁRIO tem indicações que a senhora secretária regional do Turismo ordenou que a Associação de Promoção contrate uma engenheira informática. Confirma?Os directores da AP estão contra esta contratação devido a não ser necessária e ameaçam demitir-se caso a sua vontade impere. Que leitura faz desta posição?Em que estado estão as contas da AP? Confirmam-se incumprimentos diversos que põem em causa  a promoção e as operações contratadas?". As perguntas foram feitas ontem à secretária regional da Cultura, Turismo e Transportes. Aguardam resposta.Estudante pressiona AP a contratar engenheiraA Associação de Promoção da Madeira (AP) não nada em dinheiro. Bem pelo contrário. Muitos dos seus directores e membros admitem falência. Mesmo assim está confrontada com um novo e preocupante problema.O DIÁRIO sabe que a secretária regional da Cultura, Turismo e Transportes tem tentado por todos meios impor a contratação de uma jovem engenheira informática para os quadros da AP, sem que esta tenha necessidade de a empregar.A oposição a este capricho governativo tem sido expressa de diversas formas e em vários momentos. Chegou mesmo a ser lavrada em acta a decisão da direcção da AP de não acatar as ordens superiores. Conceição Estudante não gostou e ordenou que a opção fosse reconsiderada, o que deixou embaraçado o presidente da AP e também director regional de Turismo.Bruno Freitas foi avisado que deveria convencer os demais directores da AP a alterar a decisão então tomada por unanimidade e que a contratação da engenheira informática não era passível de discussão.Apesar de vista como "uma boa forma de contornar a legislação que proíbe as contratações para a função pública", os directores indicados pelos privados não aceitam pactuar com a ordem governativa. E ameaçaram demitir-se se a sua vontade inicial não fosse respeitada.Os privados estão fartos dos incumprimentos do governo. Antes da Expomadeira, a ACIF reuniu com o Presidente do Governo solicitando que fossem pagas verbas atrasadas e que o executivo suportasse o valor a pagar por dois funcionários públicos, a destacar para a AP de modo reforçar a área da comunicação e marketing viral através das redes sociais. Nada foi feito até hoje. E já lá vão quase 4 meses.Inverno negroO Aeroporto da Madeira tem programa das 182 frequências semanais para a época de Inverno 2012-2013. Entre voos regulares, charters e 'low cost' regista-se um acréscimo de 10 frequências semanais face a igual época de 2011.Mesmo assim, o Inverno turístico madeirense não se afigura risonho. E não é só por causa dos efeitos do dengue. Por exemplo, verifica-se que relativamente ao Inverno de 2006/2007 há uma quebra de 42 frequências semanais, correspondendo a uma perda estimada de 180 mil lugares. E se o termo comparativo for a última época de Verão, a diminuição é de 58 voos semanais.Este é um dos assuntos que constam da agenda da reunião de hoje do Conselho Consultivo da Associação de Promoção da Madeira. Um encontro que, entre outros aspectos, vai também fazer balanço do Verão.Em cima da mesa vai estar a situação financeira e de tesouraria da Associação de Promoção e a sua repercussão na realização de acções promocionais. E é ponto assente que os conselheiros vão questionar a AP sobre o facto de não ter havido trabalho de casa nos mercados onde foram e são estabelecidas novas rotas. Com a promoção bloqueada há mais de um ano, não será difícil prever que os resultados serão trágicos e que as ligações aéreas entretanto encetadas terão pouca duração. Mais voos e menos turistas é o que se perspectiva no sector.Debaixo de fogo vai estar a aposta da Direcção Regional de Turismo no mercado nacional, que não resultou como muitos avisaram. Comprovadamente é um grande fiasco, tal é a diminuição de turistas nacionais na Madeira, apesar do continente ter visto 'mupis' sobre a Madeira no Metro como nunca. O facto de ser um mercado em crise e sem dinheiro para viajar era quanto baste para que não fossem desperdiçadas verbas que deveriam ser canalizadas para os promissores mercados britânico, alemão e nórdico.Em destaque vão estar ainda as acções promocionais em curso e/ou a realizar no futuro, de modo a reverter a queda acentuada do turismo britânico na Região. O mercado inglês continua estável, não havendo diminuição nas saídas. O problema é que à Madeira chegaram menos 26% dos turistas ingleses. Tudo por causa de erros acumulados que ninguém assume.O DIÁRIO sabe que há ainda um outro ponto polémico em agenda, já que cabe obrigatoriamente ao Conselho Consultivo dar parecer favorável ao plano de actividades da AP para o próximo ano. No ano passado a primeira abordagem dos conselheiros foi negativa. Tudo indica que não serão menos severos este ano, apesar da passagem da Presidência da Direcção da AP de Conceição Estudante para as mãos de Bruno Freitas.Uma transição inicialmente mal vista pelos empresários, que a interpretaram como sendo sinal de desprezo pelo turismo por parte da secretária regional e  ainda "de enorme fraqueza".