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Falar de “onda populista” é “perigoso” por parecer “inevitável”

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O recurso à “imagem de uma onda populista, ou até de um tsunami, é muito perigoso, porque faz parecer que é um desenvolvimento inevitável”, alertou hoje o professor alemão Jan-Werner Müller, numa conferência em Lisboa.

Orador na conferência de encerramento da primeira edição das Conferências Ulisses 2018, comissariadas pelo historiador e ex-eurodeputado Rui Tavares, que hoje decorreram no Centro Cultural de Belém, o professor de Política na Universidade de Princeton (EUA) e especialista em populismos, reconheceu que é preciso dar “atenção” ao que os populistas dizem, mas evitando recorrer à imagem de uma vaga “sobre a qual nada podemos fazer”.

“Democracia Europeia: uma ideia cujo tempo chegou?” foi a pergunta de partida para um debate que contou com outros três oradores: o ministro das Finanças português e presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, o ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz e o próprio Rui Tavares.

Jan-Werner Müller comentou ainda o atual cenário europeu, nomeadamente a “autocracia eleitoral” na Hungria -- país que hoje realizou eleições, que deverão ser ganhas pelo Fidesz, partido conservador nacionalista do primeiro-ministro, Viktor Orbán, no poder, e ainda a “decisão legítima” que ditou o ‘Brexit’, a saída do Reino Unido da União Europeia (UE).

“Paradoxalmente, o ‘Brexit’ legitimou a UE, pela forma como respondeu, respeitando a decisão e tratando da saída”, concordou Rui Tavares, recordando que, enquanto “dos Estados Unidos ninguém pode sair”, na União Europeia “entra quem quer e quem quer sair sai”.

Martin Schulz defendeu “mais democracia a nível transnacional”, para responder ao “sentimento de falta de democracia face ao processo de decisão europeu”, do qual se alimentam os nacionalistas e os populistas.

“É preciso mudar urgentemente o sistema para o responsabilizar mais na relação com os europeus”, sustentou o ex-presidente do Parlamento Europeu, propondo a eleição direta dos presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu.

“A UE fala tarde, muitas vezes, e fala pouco, ou menos, do que os Estados-membros”, criticou Rui Tavares, frisando que “nenhuma democracia nacional perde por criarmos uma democracia europeia” e criticando “o regresso do regresso ao Estado-nação”.

“Os europeus têm de perceber da potência que a União Europeia é”, considerou, apostando no “patriotismo dos direitos humanos”, com o qual a UE pode “inspirar o resto do mundo”.