Situações
O teatro, dimensão da arte que já assentou praça entre nós, é algo que deve ser louvado
Apoio incondicionalmente a Morna, umas das grandes expressões da alma cabo-verdiana (na sua crioulidade, insularidade e diasporicidade) como Património Imaterial da Humanidade, candidatura que já foi submetida, no passado dia 26, à UNESCO. A inscrição da Morna, pelo efeito indutor, abre boas perspetivas para a Candidatura do Campo de Concentração / Colónia Penal do Tarrafal (já na lista indicativa desde 2003) e a do Espólio Documental de Amilcar Cabral no programa “Memória do Mundo”.
As mulheres cabo-verdianas, libertando-se do discurso prato-feito (calendário não encerra a questão), precisam assumir-se mais como sujeitos da história e intervir mais, muito mais, na vida política do país para transformá-la. Não só representação quotista, mas participação efetiva e ativa, no terreno social e económico, assim como nos centros de decisão política, é o que desejo para as mulheres de Cabo Verde. E que possam, sem peias e com toda a genica, “correr atrás” da felicidade. Existencializem-se!
O teatro, dimensão da arte que já assentou praça entre nós, é algo que deve ser louvado. O Festival Mindelact, agora em outubro, é disso prova cabal. Também o Março, Mês de Teatro recriou uma temporada séria e incontornável na vida teatral cabo-verdiana. Destaco, entre tanta coisa boa a acontecer, a peça “Crónicas do Mindelo”, peça do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português do Mindelo, encenação de João Branco, a partir das saborosas e satíricas crónicas de Rocca Vera-Cruz; destaco também o prémio de mérito teatral a Jose Fonseca Soares, mais que merecido. Vou fazer a louvação, louvação, louvação...
Reunião da organização e da curadoria do Festival de Literatura-Mundo do Sal para a realização da segunda edição, prevista para 21-24 de junho. Homenagem a Mário Fonseca e Jorge Luis Borges. No ano passado, homenageámos Corsino Fortes e José Saramago. Mais uma vez será um encontro de autores, editores, livreiros, professores, investigadores e mediadores em torno da leitura (em verdade, de encarnação da literatura-mundo).
Cabo Verde aderiu à “Equal Rights Coalition, rede mundial de defesa dos direitos das pessoas lésbicas, ‘gays’, transexuais, bissexuais e intersexuais (LGTBI). É o primeiro país africano a fazê-lo. Temos de continuar a bater por leis e práticas emancipatórias. Direitos efetivos e liberdades fundamentais para todos!
Ao acompanhar (pelos buracos da narrativa dominante do Big Data, caramba) as tenebrosas e tétricas peripécias da Cambridge Analytica, remeto-me ao filme “Terra em Transe”, de Glauber Rocha, em que uma personagem, tão manhoso o esquema, assume não saber mais quem é o inimigo. Em verdade, importa saber a extensão desta manipulação global e as facções sinistras que movem os cordelinhos.
Leio os postais (ainda inéditos) de Amilcar Cabral com extrema atenção e descortino neles uma escrita afortunada. O que me fica é a sensação de estar face a uma figura de estatura maior e com marcas intelectuais inconfundíveis. Para além das aporias políticas que o celebrizaram e dos rasgos de poeta que sabíamos, este Cabral “das cartas e dos postais” era de uma argúcia literária surpreendente.
A não perder o lançamento da antologia “Literatura-mundo: Mundos em Português (vol. I e II)”, coordenada pelas professoras Helena Buescu e Inocência Mata. Esta edição da Tinta-da-China será apresentada pelo poeta Pedro Mexia, no dia 5 de abril - Instituto Camões, em Lisboa.