Comunidades indígenas brasileiras atacadas após as eleições
Algumas comunidades indígenas brasileiras foram vítimas de ataques e ameaças após o resultado das eleições de domingo, em que o candidato da extrema-direita Jair Bolsonaro foi eleito Presidente do Brasil, denunciou hoje uma organização de defesa destes povos.
Pelo menos dois ataques e duas ações intimidatórias ocorreram no domingo e na segunda-feira em comunidades indígenas, nos estados brasileiros de Mato Grosso do Sul, na Amazónia e em Pernambuco, na região nordeste do país. Embora não tenham sido registadas mortes, os ataques resultaram em ferimentos.
Os ataques dos últimos dias têm um padrão semelhante a outros que ocorreram no mês de outubro, em que foram utilizadas armas de fogo e balas de borracha, segundo uma fonte do Conselho Indígena Missionário (CIMI), organização ligada ao episcopado brasileiro.
Em outros eventos registados, foram incendiados um posto de saúde e uma escola numa reserva que atendia cerca de 500 pacientes por mês.
O ato mais violento foi contra os habitantes da aldeia de Bororó, no Mato Grosso do Sul, uma das comunidades existentes dentro da Reserva Indígena Dourados, considerada a área indígena de maior concentração populacional étnica no país, com cerca de 13.000 habitantes.
Nesse ataque, cerca de 15 índios da etnia Guarani-Kaiowá foram feridos com balas de plástico e com armas de fogo, num ataque levado a cabo por um grupo de pessoas que chegou ao acampamento através de camiões e tratores.
Também em Pernambuco se registaram incidentes, com uma escola e um posto de saúde da comunidade Bem Querer de Baixo a serem incendiados na madrugada de segunda-feira. A aldeia está localizada numa área de conflitos com camponeses que se apropriaram das terras indígenas dos Pankararus, no município de Jatobá, no nordeste do Brasil.
De acordo com fontes do CIMI, essa comunidade está com receio pois já tinham recebido ameaças de fogo posto anteriormente. Agora, os habitantes daquela aldeia têm recebido também mensagens de aviso de que a água que utilizam seria envenenada.
Os recentes incidentes ocorreram após a eleição de Bolsonaro, que em várias ocasiões se manifestou em defesa dos grandes agricultores e mineiros que reivindicam terras de reservas indígenas.
O candidato do Partido Social Liberal (PSL, extrema-direita) Jair Messias Bolsonaro, 63 anos, capitão do Exército reformado, foi eleito no domingo, na segunda volta das eleições presidenciais, o 38.º Presidente da República Federativa do Brasil, com 55,1% dos votos.