Activista angolano defende modelo da autonomia da Madeira para Cabinda
O activista angolano Sedrick de Carvalho afirmou hoje que o Governo de Angola tem estado a “aldrabar” o povo de Cabinda, ao violar todos os acordos já assinados com o enclave para o dotar de autonomia face a Luanda.
Sedrick de Carvalho, 28 anos, falava à agência Lusa por ocasião do lançamento, na próxima segunda-feira, em Lisboa, do livro “Cabinda -- Um Território em Disputa”, de que é coordenador, e que conta com textos de outros sete autores angolanos, de e de fora do enclave, sobre a situação naquele território.
“Sobre o futuro de Cabinda, [entre] independência, autonomia ou manutenção dentro do território de Angola, defendo que tem o futuro que desejar. A autonomia parece-me a opção mais viável, que passa pela manutenção do território no todo, mas com uma autonomia igual à dos Açores ou Madeira, em Portugal”, sustentou.
No entanto, observou o finalista do curso de Direito na Universidade Piaget de Luanda, Cabinda “também tem um futuro com uma independência caso o Governo angolano não consiga resolver esta situação de forma pacífica”.
“A insistência de independências sem meios termos está a subir de tom nos últimos tempos face à traição do Governo angolano, liderado pelo MPLA, a todos os acordos que já existiram. O Governo angolano tem estado a aldrabar os independentistas. O último ocorreu em 2016, entre o Governo angolano e entidades da sociedade civil Cabinda, e tem sido sistematicamente violado”, exemplificou.
Para o também ativista dos Direitos Humanos, que esteve preso um ano em Luanda no caso do “Processo 15+2”, sob a acusação de “ator preparatórios e rebelião” e “associação de malfeitores”, a violação é “tão flagrante” que Luanda “nem sequer tem receio de o fazer”.
“Para quem teve ideias ou para quem teve a ideia de uma autonomia para Cabinda, começa a perceber que o diálogo não é a solução. Está a caminhar-se de um extremo para o outro”, alertou, defendendo o cumprimento do acordado e que a solução passa pelo diálogo e pela não violência.
Sobre a razão por que decidiu avançar com um livro sobre Cabinda, publicado pela editora portuguesa Guerra & Paz (254 páginas), Sedrick de Carvalho realçou a ausência de debate fora do círculo do enclave, situado entre os dois Congos, a norte de Angola.
“O o diálogo sobre Cabinda tem sido feito essencialmente por cabindas. Há uma ausência de pessoas de fora de Cabinda, bem como de jovens. Tem de haver um debate pacífico e não violento para se chegar a uma resolução.
Para tal, o coordenador da obra lançou convites a personalidades angolanas de vários quadrantes, como Alberto Oliveira Pinto, Marcolino Moco, Francisco Luemba, Rui Neumann, Orlando Castreo, Afonso Justino Waco e José Marcos Mavungo.
Alberto Oliveira Pinto é doutorado em História de África e professor e investigador do Centro de Estudos sobre África, Ásia e América Latina, no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa e do Centro de História da Universidade de Lisboa.
Marcolino Moco, antigo primeiro-ministro de Angola (1992/96) e secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP -- 1996/2000), é doutorado em Direito e mestre em Ciências Jurídico-Políticas, enquanto Francisco Luemba, vogal do Conselho Superior da Magistratura Judicial de Angola, é jurista e docente universitário, bem como ativista pelos direitos humanos.
Rui Neumann, editor da agência de notícias angolana e-Global, é mestre em Direito e Segurança, licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais (publicou em 2016 o livro “Raptos Políticos e Tomada de Reféns”, da Chiado Editora).
Orlando Castro é licenciado em História, escritor, jornalista e diretor adjunto do jornal angolano Folha 8
Afonso Justino Waco, oriundo da aldeia de Bamba-Cuanga, região de Miconge, município de Beliza, em Cabinda, é mestre em Teologia. Viveu no exílio, de 1961 a 1967, no Congo. Em 1975, partiu outra vez para o exílio no então Zaire (atual República Democrática do Congo) e atualmente vive exilado na Dinamarca.
José Marcos Mavungo, economista, professor universitário, foi vice-presidente da Mpalabanda -- Associação Cívica de Cabinda, extinta por razões políticas. Foi preso político de 2015 a 2016.