Correio da Madeira, para que te quero?
Foi de Marcuse que as criaturas extraíram a ideia, ou dos seus discípulos, ou foi de um artigo pedagógico, o certo é que Marcuse foi defraudado. O Correio da Madeira quer ser um ouriço, mas acaba por ser uma traça. Os escribas não entendem bem o seu papel, nem sabem bem no que se meteram. O problema é simples, estes guerrilheiros pouco urbanos sabem que a força da sua prosa reside no dano que possam causar. Dano na forma de pilhéria, é a força dos calhordas. O anonimato denota a sua cobardia mas também é um erro de autossabotagem, porque é uma admissão que estes escrevinhadores são pouco dignos. Se não o fossem, assinavam com o próprio nome.
E há outro crasso lapso, estas figuras, como já disse, constroem uma narrativa com o propósito do dano, há uma gramática de destruição, quando um projecto desta natureza deve ser um acto criador. Os mestres destes escribas acreditam que precisam do poder do dano, quando na verdade a força que precisam é criadora. Quem cria uma gramática de destruição acaba por perecer nessa gramática. Marcuse ficaria lastimoso com o seus seguidores, eles leram a sua mensagem mas não a souberam interpretar. Eles acreditam que criar um trupe de guerrilheiros escribas acabará por mudar o estado de coisas, julgam que precisam de um braço armado o que é um indício de fraqueza. O chiste e a facécia como armas apresenta-se como sedutoras só que são apenas sinal de exasperação. E mesmo que bem-sucedida (uma hipótese remota) estes escribas estarão na triste condição das SA, os rufiões são úteis apenas quando se luta pelo poder numa lógica clandestina. Quando o poder atinge uma certa dimensão e visibilidade é preciso atirar os rufiões para as masmorras ou para o fundo do mar.
Em suma, estes escrevinhadores não passam de mercenários, como aquela figura que era bancário mas pensava que é banqueiro, estes infelizes são mercenários que vão acabar como merceeiros. Vão acabar como o Vercingetórix, encerrados num duplo cerco. Primeiro, o cerco da dignidade dos seus mestres. Segundo, o cerco dos antagonistas e do rancor que estão a criar. Claro que é preciso ter dó das criaturas, que sobre o manto do anonimato (outra miragem porque toda a gente sabe quem são) julgam estar a conquistar um certo tipo de glória. Digo-vos para o vosso próprio bem, a única razão credível para ocultarem as vossas identidades é a flagrante falta de senso.
José Dias