O caroço deslocado
Um busto bastou para fazer besta um escultor. Na ilha mais formosa de Portugal, a Madeira, por lá numa zona, um boneco bronzeado do tamanho das de Mao ou de Lenine, já nos roubava a visão, e não bastando, depositaram no aeroporto do Funchal, que ganhou novo nome para quem o aceitar, um busto do mesmo rapaz ali nascido, por entre a fome e a flor, e que deu em atleta e vulto de renome, além de milionário por ter descoberto em prol da Humanidade, “a cura para a pobreza e a guerra entre nações”. Ah, não foi isso? eu pensava que seria por tão grandiosos feitos. Ah! é por chutar à bola, esse negócio? está bem. Seja. Neste país há lugar para tudo! Mas recuemos ao busto, que dizem que pretende retratar o tal atleta, mas ao que parece não satisfaz os admiradores de arte naife. Entendo eu que o busto reproduz bem a figura do homenageado tal como ele é, e não como os “mídia e as revistas fofoqueiras” dizem que ele é. O rapaz reproduzido em metal, que já fora em cera, e que foi posto à porta do aeroporto, está exactamente como é, neste ou com aquele outro esgar, e não como nos sonhos de quem gostaria como ele fosse e que só existe na cabeça de alguns, que a trazem no ar, mais agora. Reconhecemos que tem de facto o caroço deslocado, em relação à estátua de corpo inteiro e de pernas abertas, que anteriormente foi pregado no Funchal e que serve de adereço para compor umas fotos. Pelo contrário o actual busto, ao que corre na net, serve para graçolas, e o boneco á medida do que se faz nos regimes ditatoriais, não apela a mais, nem aumenta o turismo, mas o anedótico dos governantes. Quer numa, quer noutra estátua, apresenta a protuberância mais proeminente, de tão proeminente personalidade - o caroço. Numa, mais abaixo, noutra, no pescoço - a maçã de adão. Rima e é verdade. Como verdade é a futilidade de tudo quanto gerou e gera nos responsáveis de tal acto e homenagem levada a cabo, por parte de quem com gestos e decisões desta envergadura, assentam este país e a sua gente, no pedestal inseguro em que se encontra e o exibem ao ridículo pelo mundo fora. Depois digam que só os más línguas e invejosos, é que não gostam de homenagens anedóticas desta dimensão, entre exótica e folclórica condição!
Joaquim A. Moura